Cada outono que vem é mais perto
do último outono que teremos,
e o mesmo é verdade do verão ou do estio;
mas o outono lembra, por o que é,
o acabamento de tudo,
o acabamento de tudo,
e no verão ou no estio é fácil,
de olhar, que o esqueçamos.
de olhar, que o esqueçamos.
Não é ainda o outono,
não está ainda no ar o amarelo das folhas caídas
ou a tristeza húmida do tempo
que vai ser inverno mais tarde.
que vai ser inverno mais tarde.
Mas há um resquício de tristeza antecipada,
uma mágoa vestida para a viagem,
no sentimento em que somos vagamente
atentos à difusão colorida das coisas,
ao outro tom do vento,
ao sossego mais velho que se alastra.
ao sossego mais velho que se alastra.
...tudo vai no outono, tudo no outono,
na ternura indiferente do outono.
Tudo no outono, sim, tudo no outono…
Bernardo Soares - Livro do Desassossego
heterônimo de Fernando Pessoa
heterônimo de Fernando Pessoa